SEGUNDA-FEIRA: TRINDADE
r «A fé cristã crê e professa que há um só Deus, por natureza, por substância e por essência» .
r A Israel, seu povo eleito, Deus revelou-Se como sendo único.
r O próprio Jesus confirma que Deus é «o único Senhor», e que é necessário amá-Lo «com todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com todas as forças» . Ao mesmo tempo, dá a entender que Ele próprio é «o Senhor». Confessar que «Jesus é o Senhor» é próprio da fé cristã. Isso não vai contra a fé num Deus Único. Do mesmo modo, crer no Espírito Santo, «que é Senhor e dá a Vida», não introduz qualquer espécie de divisão no Deus único.
«Nós acreditamos com firmeza e afirmamos simplesmente que há um só Deus verdadeiro, imenso e imutável, incompreensível, todo-poderoso e inefável. Pai e Filho e Espírito Santo: três Pessoas, mas uma só essência, uma só substância ou natureza absolutamente simples».
r A Trindade é um mistério de fé em sentido estrito, um dos «mistérios ocultos em Deus, que não podem ser conhecidos se não forem revelados lá do alto» .
r A Trindade é una. Nós não confessamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas: «a Trindade consubstancial». As pessoas divinas não dividem entre Si a divindade única: cada uma delas é Deus por inteiro.
r As pessoas divinas são realmente distintas entre Si. «Deus é um só, mas não solitário». «Pai», «Filho», «Espírito Santo» não são meros nomes que designam modalidades do ser divino, porque são realmente distintos entre Si. «Aquele que é o Filho não é o Pai e Aquele que é o Pai não é o Filho, nem o Espírito Santo é Aquele que é o Pai ou o Filho». São distintos entre Si pelas suas relações de origem: «O Pai gera, o Filho é gerado, o Espírito Santo procede». A unidade divina é trina.
r Toda a economia divina é obra comum das três pessoas divinas. Assim como não tem senão uma e a mesma natureza, a Trindade não tem senão uma e a mesma operação . «O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três princípios das criaturas, mas um só princípio». No entanto, cada pessoa divina realiza a obra comum segundo a sua propriedade pessoal. É assim que a Igreja confessa, na sequência do Novo Testamento , «um só Deus e Pai, de Quem são todas as coisas; um só Senhor Jesus Cristo, para Quem são todas as coisas; e um só Espírito Santo, em Quem são todas as coisas». São, sobretudo, as missões divinas da Encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo que manifestam as propriedades das pessoas divinas.
r Ações ad intra e ad extra na Trindade
1) Ações ad intra
Deus existe antes de tudo, e é transcendente, não necessitando de nós. Podemos dizer que há uma vida intra-divina, uma intimidade no seio do próprio Deus, e que esta é eterna, não tendo começo nem fim. Nesse relacionamento ad intra, tudo é comum entre as três Pessoas, - o Pai, o Filho e o Espírito Santo - o próprio ser, a sabedoria, a vida, a vontade, a beleza, a santidade, a majestade, a ciência, o poder, a presença. Todavia, se a essência é comum, as existências são distintas. Há igualdade na substância e diferença na existência, como na fórmula de Tertuliano: "Tres personae, una substancia”.
A função eterna do Pai, no seio da Trindade, na vida divina ad intra, é ser a causa, o princípio, a fonte da divindade. O Filho possui a função de ser gerado. Por Sua vez, o Espírito Santo é aquele que procede de ambos. No campo da teologia trinitária, quando dizemos que o Pai é causa do Filho e do Espírito Santo, não estamos separando-Os de modo que pareça ter havido um tempo no qual um d'Eles não existia. Se o Filho é gerado pelo Pai, não há um evento histórico, datado, dessa geração, que se dá eternamente. Desde todo o sempre, o Filho é gerado pelo Pai, e o Espírito Santo procede dos dois. Por isso, o Pai é Pai: n'Ele está a fonte da divindade, embora desde sempre tenham existido o Filho e o Espírito Santo, e os três, juntos ou isoladamente, sejam igualmente adoráveis, co-eternos e perfeitamente divinos.
Na Trindade nada existe de anterior ou posterior, nada de maior ou menor; mas todas as três pessoas são co-eternas e iguais umas às outras; de sorte que, em tudo, deve ser venerada a unidade na Trindade e a Trindade na unidade.
2) Ações ad extra
Deus age inseparavelmente. Se bem que os escritores clássicos tenham didaticamente dividido as ações divinas, atribuindo-as ora a uma Pessoa, ora a outra, em razão da melhor semelhança da Pessoa (Hipóstase) com Sua função eterna no seio da Trindade, todas as obras exteriores de Deus são participadas pelos três, Pai, Filho e Espírito Santo. Nisso, a Igreja relaciona a Criação especialmente com o Pai, a Redenção com o Filho e a Santificação com o Espírito Santo, embora todos tenham participado nessas ações. Na Criação,o Filho participa: "Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito." (Jo 1,3); também o Espírito é criador, como atesta o hino medieval, Veni Creator Spiritus. Aliás, a Escritura já atesta a Criação como obra das três Pessoas, logo no seu início: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança." (Gn 1,26) O verbo está no plural, indicando que não foi só um o Autor. Como as Pessoas divinas são inseparáveis, "assim também operam inseparavelmente" (Santo Agostinho).
TERÇA-FEIRA - CRIAÇÃO E PECADO
& A criação é o fundamento de «todos os desígnios salvíficos de Deus», «o princípio da história da salvação», que culmina em Cristo. Por seu lado, o mistério de Cristo derrama sobre o mistério da criação a luz decisiva; revela o fim, em vista do qual «no princípio Deus criou o céu e a terra» (Gn 1, 1): desde o princípio, Deus tinha em vista a glória da nova criação em Cristo.
& Acreditamos que Deus criou o mundo segundo a sua sabedoria. Acreditamos que ele procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participantes do seu Ser, da sua sabedoria e da sua bondade.
& Acreditamos que Deus não precisa de nada preexistente, nem de qualquer ajuda, para criar. A criação tão pouco é uma emanação necessária da substância divina. Deus cria livremente «do nada» .
A conveniência da Criação :
& Deus criou todas as coisas, não para aumentar a Sua glória, mas para a manifestar e para a comunicar . Para criar, Deus não tem outra razão senão o seu amor e a sua bondade.
& O fim último da criação é que Deus Pai, «criador de todos os seres, venha finalmente a ser 'tudo em todos' (1 Cor 15, 28), provendo, ao mesmo tempo, a sua glória e a nossa felicidade» .
& Depois da criação, Deus não abandona a criatura a si mesma. Não só lhe dá o ser e o existir, mas a cada instante a mantém no ser, lhe dá o agir e a conduz ao seu termo. Reconhecer esta dependência total do Criador é fonte de sabedoria e de liberdade, de alegria e de confiança.
& A criação tem a sua bondade e a sua perfeição próprias, mas não saiu totalmente acabada das mãos do Criador. Foi criada «em estado de caminho» («in statu viae») para uma perfeição última ainda a atingir e a que Deus a destinou. Chamamos divina Providência às disposições pelas quais Deus conduz a sua criação em ordem a essa perfeição.
O mundo invisível :
& A profissão de fé do quarto Concílio de Latrão afirma que Deus, «desde o princípio do tempo, criou do nada ao mesmo tempo uma e outra criatura, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre. Depois criou a criatura humana, que participa das duas primeiras, formada, como é, de espírito e corpo»
& A existência dos seres espirituais, não-corporais, a que a Sagrada Escritura habitualmente chama anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura é tão claro como a unanimidade da Tradição.
& Enquanto criaturas puramente espirituais, os anjos são dotados de inteligência e vontade: são criaturas pessoais e imortais. Excedem em perfeição todas as criaturas visíveis. O esplendor da sua glória assim o atesta.
O mundo visível :
& Foi o próprio Deus que criou o mundo visível, com toda a sua riqueza, a sua diversidade e a sua ordem. O texto sagrado ensina, a respeito da criação, verdades reveladas por Deus para a nossa salvação, as quais permitem «conhecer a natureza última e o valor de todas as criaturas e a sua ordenação para a glória de Deus» .
& Nada existe que não deva a sua existência a Deus Criador: O mundo começou quando foi tirado do nada pela Palavra de Deus. Cada criatura possui a sua bondade e perfeição próprias. As diferentes criaturas, queridas pelo seu próprio ser, refletem, cada qual a seu modo, a sabedoria e a bondade infinitas de Deus.
& A interdependência das criaturas é querida por Deus (nenhuma criatura se basta a si mesma). O homem é a obra-prima da obra da criação.
Criacionismo e Evolucionismo:
& Deus criou todas as coisas. Compete à ciência dizer, dentro dos limites definidos, se houve evolução e em que termos tenha ocorrido.
A Liberdade :
& Deus criou o homem racional, conferindo-lhe a dignidade de pessoa dotada de iniciativa e do domínio dos seus próprios atos. «Deus quis "deixar o homem entregue à sua própria decisão", de tal modo que procure por si mesmo o seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegue à total e beatífica perfeição»
& A liberdade é o poder, radicado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, praticando assim, por si mesmo, ações deliberadas. Pelo livre arbítrio, cada qual dispõe de si. A liberdade atinge a sua perfeição quando está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança.
& Enquanto se não fixa definitivamente no seu bem último, que é Deus, a liberdade implica a possibilidade de escolher entre o bem e o mal, e portanto, de crescer na perfeição ou de falhar e pecar.
A questão do mal :
& Porque é que Deus não criou um mundo tão perfeito que nenhum mal pudesse existir nele? No seu poder infinito, Deus podia sempre ter criado um mundo melhor. No entanto, na sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo «em estado de caminho» para a perfeição última. Este devir implica, no desígnio de Deus, juntamente com o aparecimento de certos seres, o desaparecimento de outros; o mais perfeito, com o menos perfeito; as construções da natureza, com as suas destruições. Com o bem físico também existe, pois, o mal físico, enquanto a criação não tiver atingido a perfeição.
& Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para o seu último destino por livre escolha e amor preferencial. Podem, por conseguinte, desviar-se. De fato, pecaram. Foi assim que entrou no mundo o mal moral, incomensuravelmente mais grave que o mal físico. Deus não é, de modo algum, nem direta nem indiretamente, causa do mal moral. No entanto, permite-o por respeito pela liberdade da sua criatura e misteriosamente sabe tirar dele o bem:
«Deus todo-poderoso [...] sendo soberanamente bom, nunca permitiria que qualquer mal existisse nas suas obras se não fosse suficientemente poderoso e bom para do próprio mal, fazer surgir o bem» . Santo Agostinho
& Do maior mal moral jamais praticado, como foi o repúdio e a morte do Filho de Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela superabundância da sua graça, tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa redenção. Mas nem por isso o mal se transforma em bem.
& Deus criou o homem «à sua imagem» e constituiu-o na sua amizade. Criatura espiritual, o homem só pode viver esta amizade na modalidade da livre submissão a Deus. É isso o que exprime a proibição feita ao homem de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, «pois no dia em que o comeres, morrerás» (Gn 2, 17). A «árvore de conhecer o bem e o mal» (Gn 2, 17) evoca simbolicamente o limite intransponível que o homem, como criatura, deve livremente reconhecer e confiadamente respeitar. O homem depende do Criador. Está sujeito às leis da criação e às normas morais que regulam o exercício da liberdade.
& Tentado pelo diabo, o homem deixou morrer no coração a confiança no seu Criador. Abusando da liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Nisso consistiu o primeiro pecado do homem. Daí em diante, todo o pecado será uma desobediência a Deus e uma falta de confiança na sua bondade.
APÊNDICE: ANGELOLOGIA
Como criaturas puramente espirituais, os anjos são dotados de inteligência e de vontade:
são criaturas pessoais e imortais. Superam em perfeição todas as criaturas visíveis.
Disto dá testemunho o fulgor de sua glória.
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Obs.: Alguns estudos falam também a respeito da sujeição: situação ainda mais grave, pois alguém se entrega ao demônio como um agente do mal. É o caso de mulheres que, conscientemente, se dedicam a desviar sacerdotes de seu ministério. É também o de membros de seitas satânicas, que celebram missas negras e oferecem sacrifícios humanos ao Príncipe das trevas. Esse tipo de culto vem-se propagando nos EUA e na União Europeia, de forma crescente, após a Segunda Guerra Mundial.
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Atenção: Na história da Igreja foram e são até hoje apontados casos de possessão diabólica. A Igreja admite a possibilidade de tal fenômeno; por isto tem um ritual de exorcismo. Todavia os progressos da psicologia e da medicina revelam que muitos dos sintomas outrora atribuídos à ação direta do demônio não são senão efeitos patológicos, nervosos ou parapsicológicos. Em consequência, devemos ser sóbrios diante de notícias de possessão diabólica; principalmente no Brasil a grande maioria dos casos apresentados como de possessão não são senão estados mórbidos; todavia a presença das religiões afro-brasileiras e espíritas entre nós sugere facilmente às pessoas impressionáveis a idéia de que uma doença nervosa, renitente e feia é resultado de possessão diabólica.. Quanto mais os pacientes admitem isto, tanto mais se sugestionam, apavoram e prejudicam. Daí a necessidade de esclarecimento do povo de Deus: existe, sim, o demônio, mas a sua ação visa mais a induzir o homem ao pecado do que às doenças ou às desgraças físicas. Que o cristão seja confiante em Deus, viva santamente, e nada terá a temer da parte do Maligno: "Se Deus está conosco, quem estará contra nós? ..Quem nos separará do amor de Cristo?" (Rm 8,31.35).
QUARTA-FEIRA: CRISTOLOGIA
' A Conveniência da Encarnação
Por "encarnação" entendemos o fato de Deus fazer-se homem sem deixar de ser Deus e sem mutilar a natureza do homem. Era conveniente ou harmonioso este desígnio de Deus?
Respondemos positivamente. Por quê?
- Deus é Amor (1 Jo 4,8; Tt 3,4). É mesmo Amor infinito.
Ora o amor é perfectivo e difusivo de si, ou seja, o amor é fonte de perfeição e de autodifusão; quer dar-se à pessoa amada para beneficiá-la. Por isto, Deus se dá ao homem em três comunicações de ordem ascendente:
1) na criação Deus fez o homem à sua imagem e semelhança (Gn 1, 26-28). Estabeleceu assim a ordem natural;
2) na elevação do homem à comunhão de vida com o próprio Deus. Tal é a ordem sobrenatural. Estas duas primeiras comunicações foram deterioradas pelo pecado.
3) Na Encarnação: a natureza humana de Jesus, com sua consciência humana e sua liberdade, existe pela existência da segunda Pessoa da SS. Trindade. É caso único. Esta é a comunicação máxima de Deus ao homem. Deus quis que a própria humanidade, unida ao Filho de Deus encarnado, se tornasse o instrumento da sua redenção.
Donde se conclui que a Encarnação era conveniente ao plano de Deus-Amor. Não obstante, aos olhos da razão, ele será sempre "loucura-escândalo".
Ø O Verbo se fez carne para salvar-nos, reconciliando-nos com Deus.
Ø O Verbo se fez carne para que, assim, conhecêssemos o amor de Deus.
Ø O Verbo se fez carne para ser nosso modelo de santidade.
Ø O Verbo se fez carne para tornar-nos “participantes da natureza divina”.
' As naturezas Divina e Humana de Cristo
Que é natureza? Para responder, devemos expor primeiramente o que é essência: é aquilo que faz algo ser o que ele é; a essência do homem, por exemplo, não é a cor dos cabelos ou a estatura do corpo, mas é "ser vivente racional"; a essência de Deus é "ser por si, e não por outrem". - Ora a natureza é a essência na medida em que é princípio de agir.
Em Jesus cada uma das naturezas (a divina e a humana) é fonte de suas atividades próprias. A natureza humana é gerada, come, dorme, cresce em sabedoria e idade, sofre e morre; só não compartilha o pecado dos homens; notemos bem que essa natureza humana de Jesus é integrada não só por um corpo, mas também por uma alma espiritual com suas faculdades próprias, alma espiritual que não é a Divindade (ou a natureza divina) de Jesus.
A natureza divina está presente em Cristo na medida em que é a natureza do Filho, e realiza as atividades próprias de Deus como os milagres, o perdão dos pecados. ... Visto que a natureza divina não se reparte, devemos dizer que em Cristo, o Pai e o Espírito Santo estão presentes, pois a única natureza divina também é deles; estão presentes por concomitância (ao Filho). Todavia o ato de encarnar-se ou de fazer subsistir a natureza humana recebida de Maria Virgem não é realizado pelas três pessoas, mas exclusivamente pela do Filho.
' A União hipostática
Em Jesus havia tudo o que integra a natureza humana (corpo, alma, com inteligência, vontade, consciência psicológica, afetos, capacidade de trabalhar, sofrer, morrer...). Todavia a subsistência da natureza humana de Jesus não era devida a uma pessoa humana, e, sim, à segunda pessoa da SS. Trindade; esta se tornou, pelo mistério da Encarnação, o sujeito responsável, em última instância, pelas ações de Jesus. O que quer dizer; a segunda Pessoa da SS. Trindade, que, desde toda a eternidade, subsistia na natureza divina com o Pai e o Espírito Santo, passou, pela Encarnação, a subsistir na natureza humana em Maria Virgem; contudo nada perdeu do que é de Deus (poder infinito, ciência universal...) É este tipo de união entre a natureza humana e a divina que se chama hipostática, isto é, pessoal (pois se faz pela hipóstase ou pessoa do Verbo Divino).
Em Jesus Cristo a pessoa do Verbo é preexistente no sentido de que existia antes da Encarnação no seio do Pai.
Em Jesus Cristo há uma só pessoa, adorável mesmo em sua humanidade e capaz de dar valor infinito aos seus atos humanos, merecendo-nos em estrita justiça a salvação eterna.
O sujeito último de todas as ações de Cristo é a segunda pessoa da SS. Trindade, mesmo quando Ele comia, bebia, padecia e morria. Por isto é lícito dizer: "Deus morreu... na medida em que assumiu a natureza humana e mediante essa natureza humana". Ao contrário, não se deve dizer: "A Divindade morreu por nós", porque tal expressão indica a natureza e a natureza só age na medida em que subsiste numa pessoa.
' As Vontades do Verbo
A Igreja confessou, no sexto Concilio ecumênico, que Cristo possui duas vontades e duas operações naturais, divinas e humanas, não opostas mas cooperantes, de maneira que o Verbo feito carne quis humanamente, em obediência ao Pai, tudo quanto decidiu divinamente com o Pai e o Espírito Santo para a nossa salvação. A vontade humana de Cristo «segue a sua vontade divina, sem fazer resistência nem oposição em relação a ela, antes estando subordinada a essa vontade omnipotente»
' As ações teândricas
Já que em Cristo há duas natureza, há também dois modos de agir: o divino e o humano.
As operações exclusivamente divinas de Jesus eram as que Ele executava com o Pai e o Espírito Santo desde todo o sempre: criar, conservar, mover as criaturas...
As operações humanas de Jesus nunca eram meramente humanas, porque tinham como sujeito o Filho de Deus; por isto são ditas "divino-humanas" ou teândricas. Distinguem-se dois tipos de operações teândricas:
a) as de sentido largo: a natureza humana realizava o que lhe era próprio (comer, dormir, sofrer... ). Eram sempre atividades de Deus feito homem.
b) as de sentido estrito: a natureza humana cooperava como instrumento da Divindade em ações que escapavam ao alcance do homem; tais eram, por exemplo, os mi- lagres, o perdoar os pecados (Mc 2,5), o comunicar o Espírito Santo (Jo 20,22s)... O poder de Deus passava através dos gestos e das palavras de Jesus para realizar um efeito transcendental.
Em consequência, dizemos que a natureza humana de Jesus se tornou causa eficiente da salvação dos homens. As graças divinas que o Filho de Deus quis comunicar ao gênero humano, Ele quis que fossem dons não somente da natureza divina, mas também da natureza humana de Jesus.
SOTERIOLOGIA
Toda a vida de Cristo manifesta a sua missão: «servir e dar a vida como resgate pela multidão»
A Paixão e Morte de Cristo
V O sacrifício de Jesus «pelos pecados do mundo inteiro» (1 Jo 2, 2) é a expressão da sua comunhão amorosa com o Pai: «O Pai ama-Me, porque Eu dou a minha vida» (Jo 10, 17). «O mundo tem de saber que amo o Pai e procedo como o Pai Me ordenou» (Jo 14, 31).
V Este desejo de fazer seu o plano do amor de redenção do seu Pai, anima toda a vida de Jesus. A sua paixão redentora é a razão de ser da Encarnação: «Pai, salva-Me desta hora! Mas por causa disto, é que Eu cheguei a esta hora» (Jo 12, 27). «O cálice que o Pai Me deu, não havia de bebê-lo?» (Jo 18, 11). E ainda na cruz, antes de «tudo estar consumado» (Jo 19, 30), diz: «Tenho sede» (Jo 19, 28).
V «Ninguém Me tira a vida. Sou Eu que a dou espontaneamente» (Jo 10, 18). Daí, a liberdade soberana do Filho de Deus, quando Ele próprio vai ao encontro da morte.
V Aceitando, com a sua vontade humana, que se faça a vontade do Pai aceita a sua morte enquanto redentora, para «suportar os nossos pecados no seu corpo, no madeiro da cruz» (1 Pe 2, 24).
V A morte de Cristo é, ao mesmo tempo, o sacrifício pascal que realiza a redenção definitiva dos homens por meio do «Cordeiro que tira o pecado do mundo», e o sacrifício da Nova Aliança que restabelece a comunhão entre o homem e Deus.
V A existência, em Cristo, da pessoa divina do Filho, que ultrapassa e ao mesmo tempo abrange todas as pessoas humanas e O constitui cabeça de toda a humanidade, é que torna possível o seu sacrifício redentor por todos.
V «A Boa-Nova foi igualmente anunciada aos mortos...» (1 Pe 4, 6). A descida à mansão dos mortos é o cumprimento, até à plenitude, do anúncio evangélico da salvação. Cristo morto, na sua alma unida à pessoa divina, desceu à morada dos mortos. E abriu aos justos, que O tinham precedido, as portas do céu.
Fora da cruz, não há outra escada por onde se suba ao céu». Santa Rosa de Lima
A sua gloriosa ressurreição:
R «Nós vos anunciamos a Boa-Nova de que a promessa feita aos nossos pais, a cumpriu Deus para nós, seus filhos, ao ressuscitar Jesus» (Act 13, 32-33). A ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa fé em Cristo, acreditada e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada como parte essencial do Mistério Pascal.
R A fé da primeira comunidade dos crentes está fundada no testemunho de homens concretos, conhecidos dos cristãos e, a maior parte, vivendo ainda entre eles. Estas «testemunhas da ressurreição de Cristo» são, em primeiro lugar, Pedro e os Doze.
R A ressurreição de Cristo não foi um regresso à vida terrena, como no caso das ressurreições que Ele tinha realizado antes da Páscoa. No seu corpo ressuscitado, Ele passa do estado de morte a uma outra vida, para além do tempo e do espaço.
R Existe um duplo aspecto no mistério pascal: pela sua morte, Cristo liberta-nos do pecado; pela sua ressurreição, abre-nos o acesso a uma nova vida. Esta é, antes de mais, a justificação, que nos repõe na graça de Deus.
A sua admirável ascensão aos Céus:
ñ «E Eu, uma vez elevado da terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12, 32). A elevação na cruz significa e
anuncia a elevação da ascensão aos céus. É o princípio dela.
ñ Nos céus, Cristo exerce permanentemente o seu sacerdócio, «sempre vivo para interceder a favor daqueles que, por seu intermédio, se aproximam de Deus» (Heb 7, 25).
ñ Sentar-se à direita do Pai significa a inauguração do Reino messiânico, cumprimento da visão do
profeta Daniel a respeito do Filho do Homem.
ñ A Ascensão de Jesus não significa a restituição do Filho de Deus à sua glória celeste (o Filho nunca perdeu o que é de Deus), mas é a exaltação do homem Jesus, crucificado e morto, até a glória do Filho de Deus; é a humanidade de Jesus que experimenta a glorificação. A Ascensão remata a Redenção em Jesus; com efeito, a Encarnação velara mais do que revelara o Verbo; ora a Ascensão o revela plenamente, fazendo-O transparecer através da matéria. Por conseguinte, a ascensão vem a ser:
a) a festa da realeza de Cristo por excelência
b) a consumação do sacerdócio de Cristo
c) a abertura do santuário celeste para o gênero humano
d) o penhor da consumação de todo o universo.
QUINTA-FEIRA: O ESPÍRITO SANTO
“Sem o Espírito não é possível ver o Filho de Deus, e sem o Filho ninguém tem acesso ao Pai, porque o conhecimento do Pai é o Filho, e o conhecimento do Filho de Deus faz-se pelo Espírito Santo.”
Santo Irineu
A Pessoa do Espírito Santo:
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João Paulo II: Pessoa Dom
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“Pela comunhão com Ele, o Espírito Santo torna-nos espirituais, recoloca-nos no paraíso, reconduz-nos ao Reino dos céus e à adoção filial, dá-nos a confiança de chamar Pai a Deus e de participar na graça de Cristo, de ser chamados filhos da luz e de tomar parte na glória eterna.”.
São Basílio
A Santificação das Almas:
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A atualização do Mistério de Cristo:
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santificador. Estas «maravilhas de Deus», oferecidas aos crentes nos sacramentos da Igreja, dão os seus frutos na vida nova em Cristo, segundo o Espírito.
SEXTA-FEIRA: MARIA – IGREJA – ESCATOLOGIA
“Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.” Lc 1,38
O que a fé católica crê acerca de Maria funda-se no que ela crê acerca de Cristo, mas o que a fé ensina sobre Maria ilumina, por sua vez, sua fé em Cristo.
O proto-evangelho – Gn 3,15:
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A profecia de Isaías 7:
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A Maternidade Divina - Theotókos
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A Virgindade Perpétua:
A virgindade de Maria manifesta a iniciativa absoluta de Deus na Encarnação. Jesus só tem Deus por Pai .
«A natureza humana, que Ele assumiu, nunca O afastou do Pai. Naturalmente Filho do seu Pai segundo a divindade, naturalmente Filho da sua Mãe segundo a humanidade, mas propriamente Filho de Deus nas suas duas naturezas»
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A Liturgia da Igreja celebra Maria “Aeiparthenos” como a «sempre Virgem».
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"O corpo do Senhor, após a ressurreição, entrou onde se achavam os discípulos passando por portas fechadas, esse mesmo corpo que, ao nascer, saiu do seio fechado, manifestando-se aos olhos dos homens. Não é para admirar que o Senhor, ressuscitado para viver eternamente, tenha atravessado portas fechadas, visto que, para morrer, Ele veio a nós através do seio fechado da Virgem.
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1) Os "irmãos de Jesus" eram Tiago, José, Judas e Simão, além de irmãs anônimas; (Mc 6,3; Mt 13,55s).
2) Há claros indícios, no Evangelho, de que não eram filhos da mãe de Jesus, mas parentes em sentido mais amplo. A saber:
- conforme Lc 2,41-52, Jesus, aos doze anos, parece ser filho único; Maria e José não teriam empreendido uma viagem de quatorze dias pelo menos, deixando em casa filhos pequenos;
- segundo Jo 19,26s, Jesus, ao morrer, entregou sua Mãe a João, filho de Zebedeu - o que só se explica se Maria não tinha outros filhos.
3) Nunca o Novo Testamento fala de "filhos de Maria e José". Jesus é dito "filho (putativo) de José" (Lc 3,23) e "o filho de Maria" (com artigo; Mc 6,3). Em certos casos, a expressão "filhos de Maria" seria mais natural do que "irmãos de Jesus", desde que se tratasse propriamente de irmãos; ver Mc 3,31-35; At 1,14.
4) O fato de que Maria aparece frequentemente nos Evangelhos em companhia dos "irmãos de Jesus", explica-se do seguinte modo: José, esposo de Maria, deve ter falecido no início da vida pública de Jesus; em consequência, os parentes de Jesus se tornaram solidários com ela, acompanhando-a em público.
5) Que grau de parentesco havia então entre Maria e os "irmãos de Jesus"? - Em Mt 27,56 lê-se que, entre as mulheres ao pé da cruz de Jesus, estava Maria, mãe de Tiago e José. Ora, conforme Jo 19,25, essa Maria não é a esposa de S. José, mas de Cleofas. - Pois bem; Cleofas (em grego) ou Alfeu (em aramaico) era irmão de S. José, conforme o antigo historiador Hegesipo (século II). Donde se conclui que Cleofas e Maria de Cleofas eram os genitores de Tiago e José e, consequentemente, de Judas e Simão; estes assim eram primos de Jesus e sobrinhos de Maria. Está, pois, explicado o problema dos "irmãos de Jesus".
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A ImaculadaConceição:
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Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, «cumulada de graça» por Deus, foi redimida desde a sua concepção. É o que confessa o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo Papa Pio IX:
«Por uma graça e favor singular de Deus onipotente e em previsão dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada intacta de toda a mancha do pecado original no primeiro instante da sua concepção».
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A Assunção aos Céus:
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Desde remota época (sec. I V /V), os autores cristãos julgaram que Maria SS. teve fim de vida terrestre singular; em seus sermões e em escritos apócrifos, professaram a glorificação corporal de Maria, logo após a sua morte na terra. Esta crença foi-se transmitindo até que o Papa XII em 1950 houve por bem proclamá-la solenemente como dogma de fé.
Quais seriam as razões deste privilégio de Maria? Ainda se deriva da Maternidade Divina. A saber:
1) Maria, que não esteve sujeita ao império do pecado para poder ser a santa Mãe de Deus, não podia ficar sob o domínio da morte (que entrou no mundo através pecado). Por isto ela não conheceu a deterioração da sepultura, mas foi glorificada não somente em sua alma, mas também em seu corpo.
2) A carne da mãe e a carne do filho são uma só carne. Por isto à carne de Maria ia tocar a mesma sorte que tocou à carne de Jesus: ambas foram glorificadas no fim desta caminhada terrestre.
Ao definir esta verdade, Pio XII não quis dirimir a questão: Maria SS. passou pela morte corporal ou não? A tradição mais antiga refere que Maria morreu e aponta o seu sepulcro em Jerusalém; todavia autores recentes julgam que a Virgem SS. foi isenta da morte, de modo que teria passado diretamente da vida terrestre para a glória. Esta sentença é aceitável, mas não é a mais provável; é de crer que Maria tenha imitado o Cristo também ao experimentar a morte.
«No teu parto guardaste a virgindade e na tua dormição não abandonaste a mundo, ó Mãe de Deus: alcançaste a fonte da vida. Tu que concebeste o Deus vivo e que, pelas tuas orações, hás-de livrar as nossas almas da morte» .Liturgia Bizantina, Tropário da Festa da Dormição
Medianeira das Graças:
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Eclesiologia
A Igreja não tem outra luz senão a de Cristo e é o lugar onde “floresce o Espírito Santo”.
A Igreja é sinal e instrumento da reconciliação e da comunhão de toda a humanidade
com Deus e da unidade de todo o gênero humano.
A Igreja como Sacramento do Filho:
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Povo de Deus; Corpo de Cristo; Templo do Espírito:
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«O que o nosso espírito, quer dizer, a nossa alma, é para os nossos membros,
o Espírito Santo é-o para os membros de Cristo, para o corpo de Cristo, que é a Igreja» ( S. Agostinho).
A continuidade da presença de Cristo:
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A Unidade da Igreja:
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A Santidade da Igreja:
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A Catolicidade da Igreja:
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A Apostolicidade da Igreja:
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A Igreja Romana:
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A Hierarquia da Igreja:
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O Papel dos leigos na vida da Igreja:
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ESCATOLOGIA
1. “Donde há de vir para julgar os vivos e os mortos”
ð Senhor do cosmos e da história, Cabeça da sua Igreja, Cristo glorificado permanece misteriosamente sobre a terra, onde o Seu Reino já está presente como germe e início na Igreja. Ele um dia voltará em glória, mas não sabemos quando. Por isso, vivemos vigilantes, rezando: «Vem, Senhor» (Ap 22,20).
Após o último abalo cósmico deste mundo que passa, a vinda gloriosa de Cristo acontecerá com o triunfo definitivo de Deus na Parusia de Cristo e com o Juízo final. Assim se cumprirá o Reino de Deus. Cristo julgará com o poder adquirido como Redentor do mundo, vindo para salvar os homens. Os segredos dos corações serão revelados, bem como o procedimento de cada um em relação a Deus e ao próximo. Cada homem será repleto de vida ou condenado para a eternidade segundo as suas obras. Assim se realizará «a plenitude de Cristo» (Ef 4,13), na qual «Deus será tudo em todos» (1 Cor 15,28).
2. A morte
“ Eu não morro, entro na vida.” (Santa Teresinha do Menino Jesus)
V Morte é a separação da alma e do corpo; o corpo cai na corrupção, enquanto a alma, que é imortal, vai ao encontro do Julgamento divino e espera reunir-se ao corpo quando este, transformado, ressuscitar no regresso do Senhor. Compreender como acontecerá a ressurreição supera as possibilidades da nossa imaginação e do nosso entendimento.
V "É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto." Em certo sentido, a morte corporal é natural; mas para a fé ela é na realidade "salário do pecado" (Rm 6,23). E, para os que morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte do Senhor, a fim de poder participar também de sua Ressurreição.
V Morrer em Cristo significa morrer na graça de Deus, sem pecado mortal. O que crê em Cristo e segue o Seu exemplo pode assim transformar a própria morte num ato de obediência e de amor ao Pai. «É certa esta palavra: se morrermos com Ele, também com Ele viveremos» (2 Tim 2,11).
3. O Juízo Particular
A morte põe fim à vida do homem como tempo aberto ao acolhimento
ou à recusa da graça divina manifestada em Cristo.
? A vida eterna é a que se iniciará imediatamente após a morte. Ela não terá fim. Será precedida para cada um por um juízo particular realizado por Cristo, juiz dos vivos e dos mortos, e será confirmada pelo juízo final.
? Juízo particular é o juízo de retribuição imediata, que cada um, a partir da morte, recebe de Deus na sua alma imortal, em relação à sua fé e às suas obras. Tal retribuição consiste no acesso à bem-aventurança do céu, imediatamente ou depois de uma adequada purificação, ou então à condenação eterna no inferno.
4. O céu ( o paraíso)
Vida perfeita com a Santíssima Trindade, comunhão de vida e de amor com ela, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados, é denominada "o Céu". O Céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem,
o estado de felicidade suprema e definitiva. Viver no Céu é "viver com Cristo". Os eleitos vivem "nele", mas lá conservam - ou melhor, lá encontram – sua verdadeira identidade, seu próprio nome.
J Por «céu» entende-se o estado de felicidade suprema e definitiva. Os que morrem na graça de Deus e não precisam de ulterior purificação são reunidos à volta de Jesus e de Maria, dos anjos e dos santos. Formam assim a Igreja do céu, onde vêem Deus «face a face» (1 Cor 13,12), vivem em comunhão de amor com a Santíssima Trindade e intercedem por nós.
J Na glória do Céu, os bem-aventurados continuam a cumprir com alegria a vontade de Deus em relação aos outros homens e à criação inteira. Já reinam com Cristo; com Ele "reinarão pelos séculos dos séculos" (Ap 22,5).
5. O Purgatório (ou a purificação final)
K O purgatório é o estado dos que morrem na amizade de Deus, mas, embora seguros da sua salvação eterna, precisam ainda de purificação para entrar na alegria de Deus.
K A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório sobretudo no Concílio de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos textos da Escritura, a tradição da Igreja fala de um fogo purificador: “No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo, que, se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoada nem presente século nem no século futuro (Mt 12,32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro.” ( São Gregório Magno)
K Este ensinamento apoia-se também na prática da oração pelos defuntos, da qual já a Sagrada Escritura fala: "Eis por que ele (Judas Macabeu) mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado" (2Mc 12,46). Desde os primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos.
6. O inferno
L Consiste na condenação eterna daqueles que, por escolha livre, morrem em pecado mortal. A pena principal do inferno é a eterna separação de Deus, o único em quem o homem encontra a vida e a felicidade para que foi criado, e a que aspira. Cristo exprime esta realidade com as palavras: «Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno» (Mt 25, 41).
L Morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra "inferno".
L Como conciliar a existência do inferno com a infinita bondade de Deus? Deus, apesar de querer «que todos venham a converter-se» (2Pe 3,9), todavia, tendo criado o homem livre e responsável, respeita as decisões dele. Portanto, é o próprio homem que, em plena autonomia, se exclui voluntariamente da comunhão com Deus se, até ao momento da própria morte, persiste no pecado mortal, recusando o amor misericordioso de Deus.
7. O Juízo Final
G A ressurreição de todos os mortos, "dos justos e dos injustos" (At 24,15), antecederá o Juízo Final.
G O juízo final (universal) consistirá na sentença de vida bem-aventurada ou de condenação eterna, que o Senhor Jesus, no seu regresso como juiz dos vivos e dos mortos, pronunciará em relação aos «justos e injustos» (At 24, 15), reunidos todos juntos diante d’Ele. A seguir a tal juízo final, o corpo ressuscitado participará na retribuição que a alma teve no juízo particular.
G O juízo final terá lugar no fim do mundo, do qual só Deus conhece o dia e a hora.
G A mensagem do Juízo Final é apelo à conversão enquanto Deus ainda dá aos homens "o tempo favorável, o tempo da salvação" (2Cor 6,2). O Juízo Final inspira o santo temor de Deus. Compromete com a justiça do Reino de Deus. Anuncia a "bem-aventurada esperança" (Tt 2,13) da volta do Senhor, que “virá para ser glorificado na pessoa de seus santos e para ser admirado na pessoa de todos aqueles que creram” (2Ts 1,10).
Obs.: Há quem pergunte por que admitir o juízo particular, se existirá o juízo universal, tão enfatizado pela S. Escritura (Mt 25,31-46). – A resposta é: todo homem apresenta duplo aspecto: o individual e o comunitário; os atos de uma pessoa nunca têm caráter meramente privado. Donde se segue a conveniência de ser julgada tanto em particular como perante a comunidade, à qual tem como que o dever de prestar contas da sua vida. Ora a este duplo aspecto correspondem os dois julgamentos: uma única sentença é proferida sobre o homem em duas ocasiões da história.
APÊNDICE SOBRE A
REENCARNAÇÃO
"Reencarnação" significa a volta da mesma alma humana (também chamada "espírito") a este mundo, onde vai assumindo corpos sucessivos, a fim de evoluir e progredir espiritualmente até chegar à perfeição. - Examinemos as razões que parecem fundamentar esta tese:
1) As desigualdades. Uns nascem aquinhoados física e psiquicamente (ricos e sadios), ao passo que outros vêm ao mundo doentes e pobres; isto só se poderia explicar pelo fato de que uns e outros viveram encarnações anteriores, nas quais conseguiram tal ou tal sorte mediante a lei do karma.
- Respondemos que Deus é soberanamente livre para criar quem Ele queira. O mundo está cheio de criaturas diversificadas entre si; não há duas folhas absolutamente iguais; é precisamente esta variedade que faz a beleza do universo. O que a justiça divina implica, é que cada criatura receba as graças necessárias para chegar à perfeição; ora o Senhor, de fato, chama cada um dos seres humanos à plenitude e lhe oferece os subsídios para atingi-Ia.
Ademais é ilusório avaliar a felicidade de alguém por aquilo que tem. Mais importante do que o ter é o ser; há pessoas que têm muitos bens materiais, mas não são humanas e, sim, monstruosas. Não raro o sofrimento e a privação são elementos salutares na vida de alguém, pois levam a pessoa a vencer seu egoísmo congênito; baseados nesta experiência, os gregos pré-cristãos diziam: páthos (sofrimento) é máthos (escola, educação). Por isto a Providência Divina permite que todos, mesmo os aparentemente mais aquinhoados tenham uma parcela de cruz a carregar; não há quem não sofra; a nós é difícil avaliar e comparar os sofrimentos dos nossos semelhantes.
Notemos ainda que a lei do karma reduz o conceito de Deus ao de um tirano inexorável, cego e mecanicista. Na verdade, Deus é Pai, ... o Pai que perdoa imediatamente ao filho arrependido ( Lc 15,11-32). Aliás, segundo a lei do karma, deveríamos dizer que toda pessoa rica e sadia é muito virtuosa e toda pessoa pobre e doente é grande pecador - o que vem a ser mentira.
Além do mais, a justiça exige que o réu saiba por que é punido; o bom senso se revolta contra uma punição que não tenha explicação. Para que o culpado possa arrepender-se dos seus erros, deve saber quais são. Ora ninguém tem reminiscência de suas "encarnações" anteriores, nem sabe por que está hoje "reencarnado".
2) Os relatos de vida pregressa feitos em transe hipnótico. Todos os relatos obtidos em transe hipnótico, como sendo de existências pregressas, até hoje foram reduzidos a narrações de fatos vividos pelo próprio narrador na vida presente. Sim; é notório que temos na nossa consciência psicológica apenas 1/8 dos conhecimentos que adquirimos desde a infância; 7/8 ficam latentes no nosso inconsciente. Ora, colocados em transe hipnótico, perdemos o controle sobre as nossas faculdades e dispomo-nos a obedecer cegamente ao operador. Por conseguinte, se este manda que alguém narre a trama de sua pretensa vida pregressa, tal pessoa associará, de maneira livre, as recordações e imagens que guarda em seu inconsciente; constituirá assim um enredo, que surpreenderá os ouvintes e o próprio paciente, mas que nada de novo apresentará; submetido a controle, tal enredo será identificado como a soma de experiências vividas pelo paciente no decorrer mesmo desta vida.
3) Os gênios seriam espíritos que se aperfeiçoaram em numerosas encarnações anteriores. - Ora tal explicação é gratuita. Quem observa os gênios, verifica que não nasceram sabendo, mas são pessoas que estudam concentradamente sem se dispersar. Isto supõe inteligência perspicaz e vontade decidida, mas não encarnações anteriores.
Quanto às crianças-prodígio, sabemos que aprendem com facilidade e rapidez. Todavia estes predicados se devem à constituição nervosa de tais crianças, de tal modo que raramente se tornam pessoas talentosas. Ao contrário, as crianças aparentemente não talentosas, mas dotadas de natureza calma, aprendem de maneira mais contínua, podendo chegar a ser cidadãos de importância.
4) A paramnésia. Muitas pessoas que vão pela primeira vez a determinado lugar, têm a impressão de já ter estado aí. Será que por lá passaram em uma encarnação anterior? -Respondemos:
- Às vezes a pessoa não esteve conscientemente no lugar, mas esteve inconscientemente; ora o inconsciente (mesmo o de uma criança de colo) colhe impressões e as guarda latentes. Digamos, pois, que uma criança seja levada a um parque ou a uma praia; trinta anos depois essa pessoa volta a tal ambiente; compreende-se que o reconheça imediatamente... Afirmará que já esteve nesse lugar - o que será verdade, não, porém, numa encarnação anterior.
- Pode também acontecer que a pessoa tenha visto fotografias ou filmes referentes a esse lugar - o que leva a crer que já tenha estado aí.
- Existe também a explicação pela hiperestesia. Há pessoas cujo inconsciente é capaz de ler o inconsciente de outrem. Ora, se vou ao Japão pela primeira vez e tenho a impressão de já ter estado lá, posso perguntar-me se nunca estive ao lado de uma pessoa que já tivesse estado no Japão. Em caso positivo (o que é plausível), eu terei percebido inconscientemente o que o amigo vira conscientemente e trazia no seu inconsciente.
- Acontece também que há muitos objetos semelhantes, de modo que, ao dizermos que já vimos algo, podemos estar confundindo esse algo com algum semelhante.
Em suma, há muitas explicações para o fenômeno da paramnésia dotadas de base científica; a única destituída de fundamento é o recurso à reencarnação.
5) Os textos bíblicos referentes a João Batista e Elias parecem insinuar que aquele era a reencarnação deste; Lc 1,17 e Mt 11,14s.
- Ora notemos que João B. declara categoricamente aos judeus: "Não sou Elias" (Jo 1,21). Mais: no monte da transfiguração apareceram a Jesus Moisés e Elias (Mt 17,3); contudo naquele tempo João já fora executado por Herodes. Por conseguinte, devia aparecer a Jesus João Batista e não Elias, conforme a doutrina da reencarnação, pois esta ensina que, quando o espírito se materializa, sempre se apresenta na forma da última encarnação. Donde se vê que João B. não era a reencarnação de Elias.
Os textos do Evangelho devem ser explicados no sentido de que João B. havia de desenvolver um papel semelhante ao de Elias: seria destemido e corajoso ao exortar os homens à conversão.
6) Em Jo 3,3 Jesus estaria exortando os homens a nascer de novo... A propósito devemos dizer que no texto original a palavra-chave é ánothen, que pode significar de novo como também do alto. Os espíritas a traduzem por de novo. Todavia o contexto mostra que deve ser vertida por do alto. Com efeito; Nicodemos, confuso, perguntou a Jesus logo a seguir: "Como pode nascer um homem, sendo velho? Poderá entrar de novo no seio de sua mãe e voltar a nascer?" Jesus logo dissipou a dúvida, explicando que não se tratava de um renascer biológico, mas de nascer da água e do Espírito, isto é, de Deus (Jo 3,5). Donde se vê que também este episódio não prova a reencarnação. Levemos em conta ainda os dizeres de Hb 9,27: "É um fato que os homens devem morrer uma só vez; depois do quê, vem o julgamento".
Em conclusão, verificamos que a ciência de hoje explica a fenomenologia aduzida pelos reencarnacionistas como expressões do psiquismo humano, compreensíveis dentro do quadro das investigações psicológicas e parapsicológicas mais abalizadas. Por conseguinte, o recurso à reencarnação é totalmente gratuito ou mesmo anticientífico e ilusório.
Aliás, não se pode dizer cristão aquele que crer em reencarnação, pois essa crença afirma:
Ø que a própria pessoa se salva (auto-salvação);
Ø que foi em vão o sacrifício de Jesus, pois não necessitamos dEle para a nossa salvação.