O Papa durante sua viagem apostólica até a França (12 – 15 de novembro de 2008) fez notar que, para muitos, Deus se converteu no “grande Desconhecido”.
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Por onde começar? Talvez precisamente pela liturgia, pelo canto sagrado e por novos edifícios de culto, confiados a pessoas que unam fé e talento para propor formas que falem de Deus.
A fé e sua doutrina: aqui está o cerne da questão. Uma fé simples como a dos pastores, das mulheres e dos homens encontrados por Jesus. E não aquela de quem, por exemplo, afirma que a ressurreição de Jesus é apenas fruto da elaboração da experiência dos discípulos.
Por isso o Papa convocou um Ano da fé para que se volte a tomar nas mãos os ensinamentos do Vaticano II e, mais popularmente, do Catecismo. Os livros de pastoral e de sociologia religiosa, por si mesmos, nunca converteram ninguém. O que se requer, por outro lado, é o conhecimento de Jesus como pessoa histórica, humana e divina, que funda nossa fé. Diante de nossos olhos estão os fatos, diz Santo Agostinho, nas mãos, os escritos: e os primeiros são muito mais importantes que os últimos. Assim, contra a tendência atual, o cristianismo renasce e demonstra que contra a Igreja, divino-humana pela vontade do Fundador, as forças infernais non praevalebunt.
Referíamo-nos, portanto, ao analfabetismo religioso assinalado pelo Papa e pelos bispos e à exigência de combatê-lo com a doutrina cristã, com a “doutrina da fé”. O dicastério vaticano que recebeu este título de Paulo VI é um instrumento imprescindível para a nova evangelização. Bento XVI pediu a todos – bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos comprometidos – que trabalhem em uníssono, para além dos programas ou planos pastorais, com o Catecismo da Igreja Católica.
Não se vai a uma missão de modo disperso, mas todos juntos com o Papa; se se quer combater a secularização que incentivou o analfabetismo religioso, é necessário que nos adequemos a Jesus, que disse: “Minha doutrina não é minha, mas sim d’Aquele que me enviou” (João 7, 16). Por isso deve-se difundir o Catecismo, diz Bento XVI: “Não anunciamos teoria e opiniões privadas, mas sim a fé da Igreja da qual somos servidores”. Mas, sobretudo a alma cristã deve buscar o coração de Jesus para alcançar o coração das pessoas, como fizeram os santos que, exatamente por isso, são tão amados.
Mesmo assim há quem sustente que o cristianismo não serve para salvar a alma. Por isso o Papa, na homília da Missa do Crisma, usou uma expressão fora de moda: o zelo pela salvação das almas. “Não apenas nos preocupamos com o corpo, mas também das necessidades da alma do homem”. Jesus disse: “De que adiante ao homem ganhar o mundo inteiro se perde sua alma?”. Deste modo, deve-se compreender o valor e a importância dos sacramentos, que desde o nascimento até a morte, servem para salvar almas. Os sacerdotes terão ainda zelo suficiente para socorrer um moribundo com o fim de confessá-lo, dar-lhe a Unção e a Comunhão para a salvação de sua alma? A alma do homem é um lembrete de que não se pertence a si mesmo, mas a Deus. Assim, os sacerdotes não pertencem a si mesmos, mas a Jesus Cristo. Necessita-se da doutrina da fé, feita de conhecimento, competência, experiência e paciência. Necessita-se de um renovado impulso apostólico. O dom da fé não está separado do batismo.
De fato, o Papa lembrou ao clero romano que se o ato de crer é “inicial e principalmente um encontro pessoal” com Cristo, como nos descrevem os Evangelhos, “essa fé não é apenas um ato pessoal de confiança, mas também um ato que tem um conteúdo” e “o batismo expressa este conteúdo”. São Cirilo de Jerusalém recorda que nossa salvação batismal depende do fato de que tenha brotado da crucifixão, sepultura e ressurreição de Cristo, realmente ocorridas na esfera física: chama-se a isso de Graça, porque a recebemos no sacramento sem sofrer as dores físicas. Por isso adverte Cirilo: “Que ninguém pense que o batismo consiste apenas na remissão dos pecados e na graça da adoção, como era o batismo de João que conferia apenas a remissão dos pecados. Nós, por outro lado, sabemos que o batismo, assim como pode liberar dos pecados e obter os dons do Espírito Santo, é também figura e expressão da Paixão de Cristo”, como proclama Paulo (Romanos 6, 3-4). “Nós sabemos”, diz o santo bispo de Jerusalém: ao encontro pessoal como o Senhor e ao prosseguir para a salvação, segue necessariamente a doutrina que se transmite através da Escritura e da Tradição da Igreja.
Tudo isso está condensado no Catecismo. É necessário renovar a catequese e a liturgia para que Deus seja conhecido e amado. Isso quer dizer uma verdadeira devoção, necessária na liturgia atual, na celebração dos sacramentos. A devoção ou pietas está constituída pela oferta de si mesmo a Deus. Isso se expressa com o conjunto dos gestos e ritos percebidos como significativos para a vida: participar da Missa, pedir para que seja celebrada pelas próprias intenções, confessar-se e comungar, assistir a outras cerimônias, rezar e cantar hinos, freqüentar a catequese, praticar as obras de misericórdia, visitar um lugar onde se venera uma imagem sagrada ou o sepulcro de um santo taumaturgo, deixar uma oferta, acender uma vela, participar na procissão, levar a imagem sagrada sobre os ombros. Em suma, são estes sinais de invocação, de proteção, de agradecimento, os que fazem a verdadeira devoção que manifesta a fé que nos justifica diante de Deus e nos salva. O Ano da Fé será um tempo propício para isso.
O estudo do conteúdo da Fé – como sublinham especialmente os movimentos eclesiais – é necessário dentro da experiência da fé, para que se torne adulto na fé, superando aquela infância que leva muitos a abandonar a Igreja depois da Confirmação, tornando-se assim incapaz de expor e tornar presente a filosofia da fé, de dar razão dela aos demais. Ser adulto na fé, contudo, não quer dizer depender das opiniões do mundo, emancipando-se do Magistério da Igreja.
Por que ainda ocupar-se disso? Porque não é apenas um pensamento teológico, mas tronou-se a uma prática que penetrou lentamente em não poucos setores da vida eclesial. Um dos mais clamorosos é a doutrina sacramental: hoje, o sacramento já não é percebido como proveniente do exterior, do alto, mas como a participação em algo que o cristão já possui. E já que hoje se gosta tanto de olhar para o Oriente, deve-se dizer – ao menos por honestidade ecumênica – que, para a teologia oriental, o rumo antropológico conduzido pela teologia ocidental é um caminho equivocado; o único tema fundamental de toda a teologia de todos os tempos é, e deve continuar sendo, a Encarnação do Verbo, o princípio humano-divino que entrou no mundo “para nós, homens, e por nossa salvação”. O homem separado de Deus não tem possibilidade de sobreviver. Caso contrário, à força de se falar do homem, como aconteceu, já não se fala mais de Deus.
Fonte: http://padrepauloricardo.org/blog/padre-bux-se-queremos-salvar-almas-voltemo-nos-para-o-catecismo