Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
http://www.cnbb.org.br/outros/dom-orani-joao-tempesta/14482-sao-pedro-vida-e-sucessa
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
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Celebramos neste final de semana a solenidade de
São Pedro! Todos os anos a liturgia nos leva a meditar sobre a vida deste
grande Apóstolo, que é considerado “o cabeça dos apóstolos” por ter sido um dos
principais líderes da Igreja Cristã primitiva, tanto por sua fé e pregação,
como pelo ardor de amor a Jesus.
Enquanto o folclore brasileiro tem mais uma
oportunidade de celebrar a “festa junina”, para nós, católicos, é uma
oportunidade para refletir sobre a vida e missão de Pedro, sobre a unidade com
seu sucessor e a nossa partilha como presente nesse dia.
Pedro, que tinha como primeiro nome Simão, era
natural de Betsaida, irmão do Apóstolo André. Pescador, foi chamado pelo
próprio Jesus e, deixando tudo, seguiu o Mestre, estando presente nos momentos
mais importantes da vida do Senhor, que lhe deu o nome de Pedro. Chegou a negar
Jesus durante o processo que culminaria em Sua morte por crucifixão.
O próprio Senhor o confirmou na fé após Sua
ressurreição (da qual o apóstolo foi testemunha), tornando-o intrépido pregador
do Evangelho com a descida do Espírito Santo de Deus, no Dia de Pentecostes, o
que o confirmou como líder da primeira comunidade. Selou seu apostolado com o
próprio sangue, pois foi martirizado em uma das perseguições aos cristãos,
sendo crucificado de cabeça para baixo, segundo a tradição, a seu próprio
pedido, por não se julgar digno de morrer como Seu Senhor, Jesus Cristo. São
Pedro escreveu duas cartas e também serviu como fonte de informações para que
São Marcos escrevesse seu Evangelho.
Historicamente, é indiscutível que Pedro foi
martirizado em Roma, pelo ano 67. Por isso mesmo, desde a Antiguidade, a Igreja
de Roma, Igreja de Pedro, é considerada a primeira entre todas as dioceses do
mundo e cabeça de todas as outras dioceses. Com o Bispo de Roma todos os outros
bispos devem estar em comunhão. Esta sempre foi e será a convicção de fé da
Igreja de Cristo. A este respeito, são abundantes os testemunhos dos
primeiríssimos séculos cristãos. Uma interpretação da missão de Pedro e de seus
sucessores, os Papas de Roma, baseada em Mt 16,13-26. Nesse texto excepcional
aparecem toda a grandeza e toda a fraqueza do ministério de Pedro e seus
sucessores.
Jesus perguntara aos discípulos que opiniões
corriam a seu respeito. Eram muitas. Todas incompletas, várias totalmente
erradas. Como hoje. Há interpretações de Cristo para todos os gostos: filósofo
e sábio, revolucionário de esquerda e agitador social, guru esotérico e
alienado, judeu exótico e rabi impostor... Haja opiniões, ontem como hoje! E,
então, Jesus volta-se para os discípulos – os Doze e os de todas as épocas: eu,
você – e dispara, como uma flecha: “E vós, quem dizeis que eu sou?” É Pedro
quem responde em nome de todos: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!” A
resposta é perfeita; é a essência da fé da Igreja. E Jesus, então, revela: “Não
foi tua inteligência; foi o Pai quem te revelou isso! E eu revelo quem tu és:
Tu és Pedro (= Pedra) e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja. E dar-te-ei
as chaves do Reino... para ligares e desligares...” Uma observação importante:
a razão humana, entregue a si mesma, não poderá jamais penetrar na essência do
mistério de Cristo: “Ninguém pode vir a mim se o Pai não o atrair” (Jo 6,44).
A fé cristã não nasce de um consenso da
sociedade, de um raciocínio filosófico ou de uma aprovação científica... nem
deve se preocupar em ser aceita pelo mundo: só pela graça, no âmbito da fé,
podemos experimentar quem é Jesus. Certamente a fé não contraria a razão, mas a
ultrapassa de longe. Pedro e seus sucessores têm a missão de dizer, como
primeiras testemunhas, o mistério de Cristo ao mundo e a toda Igreja. Por isso,
a autoridade de ensinar e de ligar e desligar, dada por Cristo...
Estamos unidos a Pedro e seus sucessores, que nos
confirmam em nossa caminhada. No dia da Solenidade de São Pedro e São Paulo, a
Igreja celebra o “dia do Papa”.
A coleta feita em todas as igrejas do mundo todo
nesta data é destinada às obras de caridade que o Papa faz. Chamamos esta
coleta de “óbolo de São Pedro”. “Óbolo de São Pedro é a expressão mais
emblemática da participação de todos os fiéis nas iniciativas de caridade do Bispo
de Roma a bem da Igreja Universal. Trata-se de um gesto que se reveste de valor
não apenas prático, mas também profundamente simbólico enquanto sinal de
comunhão com o Papa e de atenção às necessidades dos irmãos; por isso, o vosso
serviço possui um valor retintamente eclesial” (cfr. Discurso do Papa Emérito
Bento XVI aos Sócios do Círculo de São Pedro, 25 de Fevereiro de 2006).
Os Sumos Pontífices anteriores já tinham chamado
a atenção para o Óbolo como forma de os católicos apoiarem o ministério dos sucessores
de São Pedro ao serviço da Igreja Universal. Assim se exprimira, por exemplo, o
Papa São João Paulo II: “Conheceis as crescentes necessidades do apostolado, as
carências das comunidades eclesiais especialmente em terras de missão, os
pedidos de ajuda que chegam de populações, indivíduos e famílias que vivem em
precárias condições. Muitos esperam da Sé Apostólica uma ajuda que, muitas
vezes, não conseguem encontrar noutro lugar. Vistas assim as coisas, o óbolo
constitui uma verdadeira e particular participação na ação evangelizadora,
especialmente se consideram o sentido e a importância de partilhar
concretamente as solicitudes da Igreja Universal” (São João Paulo II ao Círculo
de São Pedro, 28 de Fevereiro de 2003).
As ofertas com que os fiéis presenteiam o Santo
Padre destinam-se a obras eclesiais, a iniciativas humanitárias e de promoção
social, e também para a sustentação das atividades da Santa Sé. E o Papa,
enquanto Pastor da Igreja inteira, preocupa-se também com as necessidades
materiais de dioceses pobres, institutos religiosos e fiéis em graves
dificuldades (pobres, crianças, idosos, marginalizados, vítimas de guerras e
desastres naturais; ajudas particulares a Bispos ou Dioceses em necessidade,
educação católica, ajuda a refugiados e migrantes etc.).
O critério geral, que inspira a prática do Óbolo,
remonta à Igreja primitiva: “A base primitiva para a manutenção da Sé
Apostólica deve ser constituída pelas ofertas dadas espontaneamente pelos
católicos de todo o mundo, e eventualmente também por outras pessoas de boa
vontade. Isto corresponde à tradição que tem origem no Evangelho (Lc 10,7) e
nos ensinamentos dos Apóstolos (1 Cor 11,14)” (cfr. Carta de São João Paulo II
ao Cardeal Secretário de Estado, 20 de Novembro de 1982).
Portanto, ao celebrar a Solenidade de São Pedro,
queremos pedir a intercessão deste grande homem de fé, inúmeras graças e
bênçãos. E quero também pedir a todo o povo que neste dia, em suas comunidades,
sejam generosos em suas ofertas, para que o nosso querido Papa Francisco, pelo
óbolo já tradicional e anual, possa ajudar em sua prática de caridade tantas
pessoas e tantos lugares que são vítimas, sobretudo nesses últimos tempos, de
catástrofes naturais