Ele foi sempre como aquelas raras pessoas abençoadas, que nasceram com uma missão definida e abraçaram com amor os desígnios de Deus.
Nasceu em Acari, Rio Grande do Norte, em 8 de novembro de 1920 e ingressou no seminário em 1936. Concluiu o curso de Humanidades e, logo após, continuou seus estudos no Seminário Maior da Prainha, em Fortaleza. Sua ordenação diaconal se deu em 16/03/1943 e, em 21/11/43, ordenou-se sacerdote, na Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, em Natal.
Foi coadjutor da Paróquia de Nova Cruz e capelão do Colégio Nossa Senhora do Carmo.
Em 1944, foi designado capelão do Colégio Marista de Natal e Diretor e Professor do Seminário São Pedro.
Em 1954, aos 33 anos, foi nomeado, pelo Papa Pio XII, bispo auxiliar de Natal; em 06/01/62, tornou-se Administrador Apostólico de Natal.
Em 21/10/1968, foi nomeado Arcebispo de Salvador e, em 29/03/69, o Papa Paulo VI o nomeou para o Colégio Cardinalício, nomeando-o, posteriormente, em 10/03/71, Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Durante a ditadura militar, permaneceu em silêncio, abrigando mais de quatro mil pessoas perseguidas pelos regimes totalitários do Cone Sul. Deu-lhes ajuda financeira para gastos pessoais, assistência médica e jurídica.
Em 67 anos dedicados à Igreja, ele foi rotulado tanto como conservador quanto como "bispo vermelho", por ajudar na criação de sindicatos rurais.
Na verdade, Dom Eugênio foi um apóstolo sem fronteiras. Não tinha bandeira política a não ser o amor pela humanidade, seguindo sempre Cristo, seu Mestre de todas as horas.
Eu mesmo participei de todos os cursos de bispos promovidos pelo Cardeal Sales no Sumaré, a cada início de ano. Foi num destes cursos que tive a alegria de almoçar com o Cardeal Joseph Ratzinger.
Fisicamente, perdemos, sim, uma figura importante tanto no cenário religioso como no cenário nacional, mas seu exemplo, suas lições, suas palavras ficam sempre em nossos ouvidos e em nossos corações, impulsionando-nos a agir bravamente em favor da justiça e da paz.
Eu devo, pessoalmente, muitas finezas ao querido amigo Cardeal Sales, a quem irei homenagear amanhã em suas exéquias. Foram 91 anos de fidelidade ao projeto de Deus. Que ele interceda por nós junto ao Pai. RIP.
*Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
Bento XVI sobre Dom Eugênio: "Intrépido pastor, a serviço dos mais desfavorecidos"
O Papa Bento XVI expressou pesar pela morte do Cardeal Eugênio de Araújo Sales, que faleceu na noite de segunda-feira, 9, no Rio de Janeiro.
Leia a íntegra do telegrama enviado ao Arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta:
Exmo Revmo Dom Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro
Recebida a triste notícia do falecimento do venerado Cardeal Eugênio de Araújo Sales, depois de uma longa vida de dedicação à Igreja no Brasil, venho exprimir meus pêsames a si e aos bispos auxiliares, ao clero e comunidades religiosas, e aos fiéis da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, que por três décadas teve nele um intrépido pastor, revelando-se autêntica testemunha do evangelho no meio do seu povo. Dou graças ao Senhor por ter dado à Igreja tão generoso pastor que, nos seus quase setenta anos de sacerdócio e cinquenta e oito de episcopado, procurou apontar a todos a senda da verdade na caridade e do serviço à comunidade, em permanente atenção pelos mais desfavorecidos, na fidelidade ao seu lema episcopal: “impendam et superimpendar” (gastarei e gastar-me-ei por inteiro por vós). Enquanto elevo fervorosas preces para que Deus acolha na sua felicidade eterna este seu servo bom e fiel, envio a essa comunidade arquidiocesana, que lamenta perda dessa admirada figura, à Igreja no Brasil, que nele sempre teve um seguro ponto de referência e de fidelidade à Sé Apostólica, e a quantos tomam parte nos sufrágios animados pela esperança da ressurreição, uma confortadora bênção apostólica.
Benedictus PP. XVI
Fonte: Rádio Vaticana - http://www.radiovaticana.org/bra/Articolo.asp?c=603778
http://www.radiovaticana.org/bra/Articolo.asp?c=603454